Pergunta: Sou americano de nascimento e durante o último ano estive em um Ashram em Madhya Pradesh, estudando a Ioga em seus muitos aspectos. Tínhamos um professor cujo Guru reside em Monghyur, um discípulo do grande Sivananda Saraswati. Também estive no Ramanashram. Enquanto permaneci em Bombaim, frequentei um curso intensivo de meditação birmanesa dirigido por um tal de Goenka. Mesmo assim, não encontrei a paz. Há uma melhora no autocontrole e na disciplina cotidiana, mas isso é tudo. Não posso dizer exatamente o que causou o quê. Visitei muitos lugares santos. Como cada um atuou sobre mim, não posso dizer.
Maharaj: Bons resultados virão, mais cedo ou mais tarde. Obteve alguma instrução no Sri Ramanashram?
P: Sim, alguns ingleses me ensinaram, e também um indiano seguidor da gnana yoga, que reside ali permanentemente, deu-me algumas lições.
M: Quais são seus planos?
P: Devo regressar aos Estados Unidos em consequência de dificuldades com meu visto. Pretendo completar meus estudos do curso de Cura Natural e fazer disto minha profissão.
M: Uma boa profissão, sem dúvida.
P: Há algum perigo em seguir o caminho da Ioga custe o que custar?
M: Seria perigoso um palito de fósforo quanto toda a casa está em chamas? A busca da realidade é o mais perigoso de todos os empreendimentos porque destruirá o mundo em que você vive. Mas, se sua razão for o amor à verdade e à vida, não precisará ter medo.
P: Tenho medo de minha própria mente. Ela é tão instável!
M: As imagens aparecem e desaparecem no espelho de sua mente. O espelho permanece. Aprenda a distinguir o imóvel no que muda, o imutável na mudança, até você compreender que todas as diferenças são apenas aparentes e que a unidade é um fato. A esta identidade básica você pode chamar Deus, ou Brahman, ou a matriz (Prakriti), as palavras pouco interessam - é apenas a realização de que tudo é um. Uma vez que você possa dizer, com a confiança da experiência direta, que ‘Eu sou o mundo, o mundo sou eu mesmo’, você é livre do desejo e do medo por um lado e, do outro, torna-se totalmente responsável pelo mundo. A aflição inconsciente da humanidade torna-se seu único interesse.
P: Mesmo assim um gnani tem seus problemas!
M: Sim, mas eles não são mais de sua própria criação. Seu sofrimento não está envenenado pelo sentimento de culpa. Não há nada errado em sofrer pelos pecados dos demais. O seu cristianismo está baseado nisto.
P: Todo o sofrimento não é autocriado?
M: Sim, enquanto houver um ser separado para criá-lo. No fim você sabe que não há pecado, nem culpa, nem retribuição, apenas a vida em suas intermináveis transformações. Com a dissolução do ‘Eu’ pessoal, desaparece o sofrimento pessoal. O que permanece é a grande tristeza da compaixão, o horror da dor desnecessária.
P: Há alguma coisa desnecessária no esquema das coisas?
M: Nada é necessário, nada é inevitável. O hábito e a paixão cegam e enganam. A Consciência compassiva cura e redime. Não há nada que possamos fazer, podemos apenas deixar que as coisas aconteçam de acordo com a natureza delas.
P: Você defende a passividade completa?
M: A claridade e a caridade são ação. O amor não é preguiçoso e a claridade controla. Você não precisa se preocupar com a ação, cuide de sua mente e de seu coração. A estupidez e o egoísmo são o único mal.
P: O que é melhor - a repetição do nome de Deus ou a meditação?
M: A repetição estabilizará sua respiração. Com uma respiração profunda e tranquila, a vitalidade melhorará, o que influenciará o cérebro e ajudará a mente a tornar-se pura e estável, e apta para a meditação. Sem vitalidade, pouco pode ser feito, daí a importância de sua proteção e aumento. Postura e respiração são partes da Ioga, porque o corpo deve ser sadio e estar sob controle, mas muita concentração sobre o corpo frustra seu propósito, pois no começo a mente é primária. Quando a mente é posta para descansar e não perturba mais o espaço interior (Chidakasha), o corpo adquire um novo significado, e sua transformação se torna necessária e possível.
P: Estive percorrendo toda a índia, encontrando muitos Gurus e aprendendo em gotas diversas Iogas. É correto provar um pouco de tudo?
M: Não, isto é só uma introdução. Você encontrará um homem que o ajudará a encontrar seu próprio caminho.
P: Sinto que o Guru de minha própria escolha não pode ser meu Guru real. Para ser real, deve vir inesperadamente e ser irresistível.
M: É melhor não antecipar. O modo com que você reage é decisivo.
P: Sou o senhor de minhas respostas?
M: A discriminação e o desapego praticados agora darão seus frutos no momento oportuno. Se as raízes forem sãs e bem regadas, é certo que os frutos serão doces. Seja puro, esteja alerta, mantenha-se preparado.
P: As austeridades e as penitências servem para alguma coisa?
M: Enfrentar todas as vicissitudes da vida já é penitência suficiente! Você não precisa inventar problemas. Enfrentar alegremente o que quer que a vida traga é toda a austeridade que você necessita.
P: Que me diz do sacrifício?
M: Compartilhe, com vontade e alegria, tudo quanto tem com quem necessite - não invente crueldades autoinfligidas.
P: O que é a autoentrega?
M: Aceitar o que chega.
P: Sinto que sou demasiado débil para estar sobre minhas próprias pernas. Necessito a companhia santa de um Guru e de pessoas boas. A equanimidade está além de mim. Aceitar o que chega tal como chega me dá medo. Penso em meu retomo para os Estados Unidos com horror. M: Volte e faça o melhor uso de suas oportunidades. Obtenha seu grau universitário primeiro. Você sempre pode retornar à índia para seus estudos de cura natural.
P: Sou bastante consciente das oportunidades que existem nos Estados Unidos. O que me assusta é a solidão.
M: Você tem sempre a companhia de seu próprio eu - não precisa sentir-se só; afastado dele, mesmo na índia, você se sentiria só. Toda felicidade vem de satisfazer o eu. Satisfaça-o, depois retome aos Estados Unidos, não faça nada que seja indigno da gloriosa realidade dentro de seu coração, e você deverá ser feliz, e assim permanecerá. Mas você deve buscar o eu e, tendo-o encontrado, permaneça com ele.
P: A completa solidão é de algum benefício?
M: Depende de seu temperamento. Você pode trabalhar com outros e para outros, desperto e amistosamente, e crescer mais plenamente que na solidão, a qual pode torná-lo embotado ou deixá-lo à mercê da tagarelice interminável de sua mente. Não imagine que pode mudar através do esforço. A violência, mesmo voltada contra si mesmo, como no caso das austeridades e das penitências, permanecerá estéril.
P: Não há algum modo de perceber quem está realizado e quem não está?
M: A única prova está em você mesmo. Se você achar que você se transformou em ouro, será um sinal de que você tocou a pedra filosofal. Permaneça com a pessoa e observe o que acontece com você. Não pergunte aos outros. O homem deles pode não ser o seu Guru. Um Guru pode ser universal em essência, mas não em suas expressões. Ele pode parecer colérico ou ganancioso, ou estar excessivamente preocupado com seu Ashram ou sua família, e você pode ser enganado pela aparência, enquanto os outros não.
P: Não tenho o direito de esperar uma perfeição completa, interna e externa?
M: Interna - sim. Mas a perfeição externa depende das circunstâncias, do estado do corpo, pessoal e social, e de outros inúmeros fatores.
P: Disseram-me para encontrar um gnani, para dele aprender a arte de alcançar gnana. e agora me dizem que toda a abordagem é falsa, que não posso distinguir um gnani, e que o gnana não pode ser conquistado por meios apropriados. É tudo tão confuso!
M: Isto tudo é devido à sua completa má compreensão da realidade. Sua mente está mergulhada nos hábitos de avaliar e adquirir, e não vai admitir que o incomparável e o inalcançável estejam esperando eternamente dentro de seu próprio coração para o reconhecimento. Tudo que você tem a fazer é abandonar todas as memórias e expectativas. Mantenha-se simplesmente pronto, em total nudez e insignificância.
P: Quem realiza o abandono?
M: Deus o fará. Apenas veja a necessidade de abandono. Não resista, não se aferre à pessoa que você acredita ser. Porque você imagina ser uma pessoa, toma o gnani também como uma pessoa, apenas de algum modo diferente, mais bem informado e mais poderoso. Você pode dizer que ele é eternamente consciente e feliz, mas isto está longe de expressar toda a verdade. Não confie nas definições e descrições - elas são grosseiramente enganosas.
P: A menos que me digam o que e como fazer, sinto-me perdido.
M: Sem dúvida, sinta-se perdido! Enquanto você se sentir competente e confiante, a realidade estará além de seu alcance. A menos que aceite a aventura interior como um modo de vida, o descobrimento não chegará a você.
P: Descobrimento do quê?
M: Do centro de seu ser, o qual é livre de todas as instruções, de todos os meios e fins.
P: Ser tudo, conhecer tudo, ter tudo?
M: Ser nada, não saber nada, não ter nada. Essa é a única vida digna de ser vivida, a única felicidade que vale a pena ter.
P: Posso admitir que a meta está além de minha compreensão. Ao menos, deixe-me conhecer o caminho.
M: Você deve encontrar seu próprio caminho. A menos que você o encontre, não será seu próprio caminho e não o levará a parte alguma. Viva seriamente a verdade que você encontrou - aja de acordo com o pouco que você entendeu. É a seriedade que o levará além, não sua própria habilidade ou a de outro.
P: Estou receoso dos erros. Tentei muitas coisas - nada resultou delas.
M: Você deu muito pouco de si mesmo, era meramente curioso, não sério.
P: Não conheço algo melhor.
M: Pelo menos já sabe disso. Sabendo que são superficiais, não dê valor a suas experiências, esqueça-as logo que acabarem. Viva uma vida limpa, abnegada, isso é tudo.
P: A moralidade é tão importante?
M: Não enganar, não ferir - isto não é importante? Acima de tudo, você necessita de paz interior, a qual exige harmonia entre o interior e o exterior. Faça aquilo em que acredita, e acredite no que fizer. Tudo o mais é uma perda de energia e de tempo.
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