Pergunta: Ano após ano, o seu ensinamento permanece o mesmo. Não parece haver nenhum progresso no que nos diz.
Maharaj: Em um hospital, os enfermos são tratados e ficam bem. 0 tratamento é rotineiro, quase sem alterações, mas não há nada monótono na saúde. Meu ensinamento pode ser rotineiro, mas seus frutos são novos para cada homem.
P: O que é a realização? Quem é um homem realizado? Pelo que se reconhece um gnani?
M: Não há sinais distintivos de gnana. Apenas a ignorância pode ser reconhecida, não gnana. O gnani não reivindica ser algo especial. Todos aqueles que proclamam sua própria grandeza e singularidade não são gnanis. Estão confundindo algum desenvolvimento pouco comum com a realização. O gnani não mostra inclinação para proclamar-se um gnani. Ele se considera perfeitamente normal, fiel à sua natureza real. Proclamar-se onipotente, onisciente, deidade todo-poderosa, é um claro sinal de ignorância.
P: Pode o gnani transmitir sua experiência ao ignorante? Pode gnana ser transmitido de uma pessoa a outra?
M: Sim, pode. As palavras de um gnani têm o poder de dissipar a ignorância e a obscuridade da mente. O que importa não são as palavras, mas o poder por trás delas.
P: Qual é esse poder?
M: O poder da convicção baseado na realização pessoal, na própria experiência direta.
P: Algumas pessoas realizadas dizem que o conhecimento deve ser ganho, não obtido. Outro pode ensinar, mas aprender depende de cada um. M: Vem a ser o mesmo.
P: Há muitos que praticaram Ioga durante anos e anos, sem qualquer resultado. Qual pode ser a causa de terem fracassado?
M: Alguns são viciados em transes, com suas consciências em suspensão. Sem consciência plena, que progresso poderia existir?
P: Muitos estão praticando samadhis (estado de absorção arrebatadora). Nos samadhis, a consciência é muito intensa, ainda assim eles não resultam em nada.
M: Que resultados você esperaria? E porque deveria o gnana ser resultado de algo? Uma coisa conduz a outra, mas o gnana não é uma coisa a ser limitada por causas e resultados. Está por completo além da causalidade. É o morar no ser. O Iogue chega a conhecer muitas maravilhas, mas, em relação ao eu, permanece um ignorante. O gnani pode parecer e sentir-se muito comum, mas o eu ele conhece bem.
P: Há muitos que aspiram seriamente o autoconhecimento, mas com escassos resultados. Qual seria a causa disto?
M: Não investigaram suficientemente as origens do conhecimento, não conhecem bem seus sentimentos, sensações e pensamentos. Esta pode ser a causa do atraso. A outra - alguns desejos podem ainda estar vivos.
P: Os altos e baixos são inevitáveis no sadhana. Mesmo assim o buscador sincero segue trabalhando vagarosamente apesar de tudo. O que pode fazer o gnani para tal buscador?
M: Se o buscador é sério, a luz pode ser dada. A luz é para todos e sempre está ali, mas os buscadores são poucos e, entre esses poucos, os que estão prontos são muito raros. O amadurecimento da mente e do coração é indispensável.
P: Você obteve seu próprio estado de realização por meio do esforço ou pela graça de seu Guru?
M: O ensinamento foi do Guru; a confiança, minha. Minha confiança nele fez com que eu aceitasse suas palavras como verdadeiras, que eu aprofundasse nelas, que as vivesse, e assim foi como cheguei a realizar o que eu sou. A pessoa e as palavras do Guru fizeram com que eu confiasse nele, e minha confiança as fez frutíferas.
P: Mas um Guru pode dar a realização sem palavras, sem confiança, simplesmente assim, sem nenhuma preparação?
M: Sim, pode ser feito, mas onde está o que a receberá? Veja você, eu estava tão harmonizado com meu Guru, crendo nele de forma tão completa, com tão pouca resistência em mim, que tudo aconteceu de forma fácil e rápida. Mas nem todos são tão afortunados. A preguiça e a inquietação frequentemente se põem no caminho e, até que sejam vistas e removidas, o progresso será lento. Todos aqueles que se realizaram imediatamente, por um mero toque, olhar ou pensamento, estavam maduros para isso. Mas esses são muito poucos. A maioria necessita tempo para amadurecer. O sadhana é um amadurecimento acelerado.
P: Que faz alguém maduro? Qual é o fator do amadurecimento?
M: Certamente a seriedade, deve-se estar realmente ansioso. Depois de tudo, o homem realizado é o homem mais sério. Tudo o que faz, faz completamente, sem limitações ou reservas. A integridade o levará à realidade.
P: Você ama o mundo?
M: Quando o ferem, você chora. Por quê? Porque ama a si mesmo. Não reprima seu amor limitando-o ao corpo, mantenha-o livre. Então será amor por tudo. Quando todas as autoidentificações são jogadas fora, o que fica é o amor universal. Desprenda-se de todas as ideias sobre si mesmo, mesmo da ideia de que você é Deus. Nenhuma autodefinição é válida.
P: Estou cansado de promessas. Estou cansado de sadhanas que ocupam todo o meu tempo e levam toda minha energia sem dar-me nada. Quero a realidade aqui e agora. Posso tê-la?
M: Claro que pode, desde que realmente esteja farto de tudo, incluindo seus sadhanas. Quando não exigir nada do mundo, nem de Deus, quando não quer nada, não busca nada, não espera nada, então o Estado Supremo virá a você inesperadamente e sem convite!
P: Se um homem absorvido na vida familiar e nos assuntos mundanos levar a cabo seu sadhana, estritamente como prescrevem suas escrituras, ele obterá resultados?
M: Obterá resultados, mas ficará envolto neles como em um casulo.
P: Tantos santos dizem que, quando você está pronto e maduro, você perceberá. Suas palavras podem ser verdadeiras, mas são de pouca utilidade. Deve haver uma saída, independentemente do amadurecimento, o qual necessita de tempo, e do sadhana que requer esforço.
M: Não o chame saída nem caminho; é mais um tipo de habilidade. Nem mesmo isto. Permaneça aberto e tranquilo, isso é tudo. O que busca está tão próximo de você que não há espaço para um caminho.
P: Há tantos ignorantes no mundo e tão poucos gnani. Isto se deve a quê?
M: Não se preocupe com os outros, ocupe-se com você mesmo. Você sabe que você é. Não se sobrecarregue com nomes, simplesmente seja. Qualquer nome ou forma que dê a si mesmo obscurece sua verdadeira natureza.
P: Por que a busca terá que acabar antes que alguém possa perceber?
M: O desejo da verdade é o mais elevado de todos os desejos, mas é ainda um desejo. Todos os desejos devem ser abandonados para que o real seja. Recorde que você é. Este é seu capital de giro. Faça-o girar e terá muitos benefícios.
P: Por que deve existir a busca de qualquer modo?
M: A vida é uma busca, não se pode evitá-la. Quando toda busca cessa, é o Estado Supremo.
P: Por que o Estado Supremo vai e vem?
M: Nem vai nem vem. Ele é. P: Fala por sua própria experiência?
M: Claro. É um estado atemporal, sempre presente.
P: Para mim ele vai e vem, para você não. Por que esta diferença?
M: Talvez porque eu não tenha desejos. Ou porque você não deseja o Supremo com suficiente força. Você deve se sentir totalmente desesperado quando sua mente perdeu o contato.
P: Tenho lutado toda a minha vida e alcançado tão pouco. Li, escutei - tudo em vão.
M: Ler e escutar tornou-se um hábito para você.
P: Também os abandonei. Já não leio nos dias de hoje.
M: O que abandonou não tem importância agora. Que é o que não abandonou? Descubra e deixe-o. Sadhana é uma busca pelo que abandonar. Esvazie-se completamente.
P: Como um tolo poderia desejar sabedoria? Alguém tem que conhecer o objeto do desejo para desejá-lo. Quando não se conhece o Supremo, como se poderia desejá-lo?
M: O homem naturalmente amadurece e se torna pronto para a realização.
P: Mas qual seria o fator de amadurecimento?
M: A recordação de si mesmo, a Consciência do ‘eu sou’ amadurece- o poderosa e rapidamente. Abandone toda ideia sobre si mesmo e simplesmente seja.
P: Eu estou cansado de todos os caminhos e meios, habilidades e truques, de todas essas acrobacias mentais. Não há um modo de perceber a realidade direta e imediatamente?
M: Deixe de usar a sua mente e veja o que acontece. Faça essa única coisa meticulosamente. Isso é tudo.
P: Quando era mais jovem, tive experiências estranhas, curtas, mas memoráveis, de ser nada, simplesmente nada, estando ao mesmo tempo plenamente consciente. Mas o perigo reside em que se deseja recriar na memória os momentos que passaram.
M: Tudo isto é imaginação. Na luz da consciência, acontece todo tipo de coisas, e não é necessário dar importância especial a nenhuma delas. A visão de uma flor é tão maravilhosa quanto a visão de Deus. Deixe-as ser. Por que recordá-las e depois converter a recordação em um problema? Seja suave com elas; não as divida em altas ou baixas, internas ou externas, duradouras e transitórias. Vá além, volte à origem, vá ao Eu que sempre é o mesmo, seja o que for que aconteça. A sua fraqueza se deve à convicção de que você nasceu dentro do mundo. Na realidade, o mundo está sendo eternamente recriado em você e por você. Veja tudo como a emanação da luz que é a origem de seu próprio ser. Você descobrirá que nesta luz há amor e energia infinitos.
P: Se eu sou esta luz, por que não a conheço?
M: Para conhecer, necessitaria uma mente conhecedora, uma mente capaz de conhecer. Mas sua mente está sempre correndo, nunca quieta, nunca refletindo plenamente. Como pode ver a lua em toda sua glória quando uma enfermidade escurece seus olhos?
P: Podemos dizer que, apesar do sol ser a causa da sombra, não se pode vê-lo na sombra. Deve-se mudar o ponto de vista.
M: Outra vez você introduziu a trindade de sol, corpo e sombra. Na realidade não há tal divisão. O que estou dizendo não tem nada que ver com dualidades e trindades. Não mentalize nem verbalize. Simplesmente veja e seja.
P: Tenho que ver para ser?
M: Veja o que você é. Não pergunte a outros, nem deixe que outros lhe digam nada sobre você. Olhe dentro de você e veja. Isso é tudo o que o mestre pode dizer. Não há necessidade de ir de um para outro. Todos os poços contêm a mesma água. Retire-a do mais próximo. No meu caso, a água está dentro de mim e eu sou a água.
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