Maharaj: Você está de volta à índia! Onde esteve, o que viu?
Pergunta: Vim da Suíça. Eu estive lá com um homem notável que pretende ter se realizado. No passado, fez muitas Iogas e teve muitas experiências que desapareceram. Agora, ele não reivindica nenhum conhecimento ou habilidades especiais; a única coisa pouco comum sobre ele está relacionada às sensações; ele é incapaz de separar o que vê do visto. Por exemplo, quando ele vê um carro precipitando-se sobre ele. ele não sabe se o carro está se precipitando sobre ele ou ele sobre o carro. Parece ser, ao mesmo tempo, tanto o que vê quanto o visto. Eles se tomam um. O que quer que ele veja, vê a si mesmo. Quando eu perguntei a ele sobre algumas questões dos Vedas, ele disse: ‘Eu real mente não posso responder. Eu não sei. Tudo o que eu conheço é esta estranha identidade com tudo o que percebo. Você sabe, eu esperava qualquer coisa menos isto'. No todo, é um homem humilde; não faz discípulos e não se coloca sobre um pedestal de modo algum. Ele está disposto a falar sobre sua estranha condição, mas isto é tudo.
M: Agora ele sabe que sabe. Tudo o mais terminou. Ao menos, ele ainda fala. Logo ele poderá parar de falar.
P: O que ele fará então?
M: A imobilidade e o silêncio não são inativos. A flor preenche o espaço com perfume; a vela, com luz. Elas não fazem nada, ainda assim mudam tudo pela mera presença. Você pode fotografar uma vela, mas não sua luz. Você pode conhecer o homem, seu nome e aparência, mas não sua influência. Sua própria presença é ação.
P: Não é natural ser ativo?
M: Todos querem ser ativos, mas de onde se originam suas ações? Não há um ponto central; cada ação produz outra, sem sentido e dolorosamente, em infindável sucessão. Não há a alternação de trabalho e pausa. Encontre em primeiro lugar o centro imutável onde todo o movimento nasce. Exatamente como uma roda dá voltas em um eixo, assim você deverá estar sempre no centro e não girando na periferia.
P: Como posso fazê-lo na prática?
M: Sempre que um pensamento ou emoção de desejo ou medo vier à sua mente, simplesmente afaste-se dele.
P: Suprimindo meus pensamentos e sentimentos, eu provocarei uma reação.
M: Eu não estou falando de supressão. Apenas recuse atenção.
P: Não devo esforçar-me para deter os movimentos da mente?
M: Isto não tem nada a ver com esforço. Apenas afaste-se, olhe entre os pensamentos, em vez de para os pensamentos. Quando você anda na multidão, você não luta com todo homem que encontra - você apenas se desvia deles.
P: Se eu utilizar minha vontade para controlar a mente, apenas fortalecerei o ego.
M: Certamente. Quando você luta, convida à luta. Mas quando não resiste, não encontra resistência. Quando você se recusa a jogar o jogo, você está fora dele.
P: Quanto tempo eu levarei para libertar-me da mente?
M: Pode levar mil anos, mas realmente não requer nenhum tempo. Tudo o que você necessita é estar em completa seriedade. Aqui, o querer é o feito. Se você é sincero, você alcançou. Depois de tudo, é uma questão de atitude. Nada o impede de ser um gnani aqui e agora, exceto o medo. Você teme ser impessoal, teme o ser impessoal. É tudo muito simples. Afaste-se de seus desejos e temores, e dos pensamentos por eles criados, e você estará, imediatamente, em seu estado natural.
P: Nenhum problema sobre renovar, mudar ou eliminar a mente?
M: Absolutamente nenhum. Deixe sua mente só, isto é tudo. Não a siga. Depois de tudo, não há uma mente separada dos pensamentos que vêm e vão, obedecendo às suas próprias leis, não à sua. Eles o dominam apenas porque você está interessado neles. É exatamente como disse Cristo: ‘Não resistais ao mal’. Por resistir ao mal você meramente o fortalece.
P: Sim, agora eu vejo. Tudo o que devo fazer é negar existência ao mal. Então, ele desaparece gradualmente. Mas isto não se reduz a algum tipo de autossugestão?
M: A autossugestão está em plena ação agora, quando você acredita ser uma pessoa aprisionada entre o bem e o mal. O que eu peço é que acabe com isto, desperte e veja as coisas como elas são. Sobre sua permanência na Suíça com aquele seu estranho amigo: o que você ganhou em sua companhia?
P: Absolutamente nada. Sua experiência em nada me afetou. Uma coisa eu entendi: não há nada a buscar. Onde quer que eu possa ir, nada me espera ao final da viagem. A descoberta não é o resultado do transporte.
M: Sim, você está totalmente separado de qualquer coisa que possa ser ganha ou perdida.
P: Você o chama vairagya, abandono, renúncia?
M: Não há nada a renunciar. Basta que pare de adquirir. Para dar, você deve ter e, para ter, você deve tirar. É melhor não tirar. Isto é mais simples do que praticar a renúncia, a qual leva a uma forma perigosa de orgulho ‘espiritual’. Todo este decidir, selecionar, escolher, trocar - é como ir às compras em algum ‘mercado’ espiritual. Qual é seu assunto ali? Que negócio está determinado a descobrir? Quando você não está determinado a negociar, qual a utilidade desta interminável ansiedade pela escolha? O desassossego não o leva a lugar nenhum. Alguma coisa o impede de ver que não há nada que necessite. Descubra isto e veja sua falsidade. É como ter engolido algum veneno e sofrer de um desejo insaciável por água. Em vez de beber além da medida, por que não eliminar o veneno e libertar-se desta sede abrasadora?
P: Terei que eliminar o ego!
M: O sentido ‘Eu sou uma pessoa no tempo e no espaço’ é o veneno. De certo modo, o próprio tempo é veneno. No tempo, todas as coisas terminam e nascem novas para, uma após a outra, serem devoradas. Não se identifique com o tempo, não pergunte ansiosamente: ‘O que vai acontecer, o que vai acontecer?’ Saia do tempo e veja-o devorar o mundo. Diga: ‘Bem, é a natureza do tempo pôr um fim a todas as coisas. Que seja assim. Isto não me interessa. Eu não sou combustível, nem necessito juntá-lo’.
P: A testemunha poderia existir sem coisas a testemunhar?
M: Sempre há alguma coisa a testemunhar. Se não uma coisa, então sua ausência. Testemunhar é natural e não um problema. O problema é o interesse excessivo que leva à autoidentificação. Você toma por real qualquer coisa na qual esteja absorvido.
P: O 'eu sou' é real ou irreal? O ‘eu sou' é a testemunha? A testemunha é real ou irreal?
M: O que é puro, imaculado e independente é real. O que é corrompido. confuso, dependente e transitório é irreal. Não seja enganado pelas palavras - uma palavra pode transmitir diversos, e mesmo contraditórios, significados. O ‘eu sou’ que persegue o prazeroso e evita o desagradável é falso: o ‘eu sou' que vê o prazer e a dor como inseparáveis vê corretamente. A testemunha que está enredada no que ela percebe é a pessoa; a testemunha que permanece distante, impassível e intacta, é a torre de observação do real, o ponto no qual a Consciência, inerente no imanifestado. contata o manifestado. Não pode existir nenhum universo sem a testemunha, não pode existir nenhuma testemunha sem o universo.
P: O tempo consome o mundo. Quem é a testemunha do tempo?
M: Aquele que está além do tempo - o Inominado. Uma brasa incandescente, movida rapidamente em círculo, parece um círculo incandescente. Quando o movimento cessa, a brasa permanece. Similarmente, o ‘eu sou’ em movimento cria o mundo. O ‘eu sou’ em paz torna-se o Absoluto. Você é como um homem com uma lanterna caminhando através de uma galeria. Você só pode ver apenas o que está dentro do feixe de luz. O resto está na escuridão.
P: Se eu projeto o mundo, devo ser capaz de mudá-lo.
M: Certamente, você pode. Mas você deve deixar de identificar-se com ele e ir além. Então, você terá o poder para destruir e recriar.
P: Tudo o que quero é ser livre.
M: Você deve saber duas coisas: do que vai se libertar e o que o mantém atado.
P: Por que você quer aniquilar o universo?
M: Não estou interessado no universo. Deixe-o ser ou não ser. Basta que me conheça.
P: Se você está além do mundo, então você não é de nenhuma utilidade para ele.
M: Tenha piedade do eu que é. não do mundo que não é! Absorvido no sonho, você esqueceu seu verdadeiro eu.
P: Sem o mundo não há nenhum lugar para o amor.
M: Assim é. Todos esses atributos, ser, consciência, amor e beleza, são reflexos do real no mundo. Sem o real, não há reflexo.
P: O mundo está cheio de coisas e pessoas desejáveis. Como posso imaginá-lo não existente?
M: Deixe o desejável para aqueles que desejam. Mude a corrente de seu desejo de tomar para dar. A paixão por dar, por compartilhar, naturalmente apagará a ideia de um mundo fora de sua mente, e a ideia de dar também. Apenas o puro esplendor do amor permanecerá, além do dar e do receber. P: No amor, deve existir dualidade, o amante e o amado.
M: No amor nem sequer existe mesmo o um, como pode haver dois? O amor é a recusa a separar, a fazer distinções. Antes de você pensar na unidade, você deve primeiro criar dualidade. Quando você amar verdadeiramente, você não dirá: ‘Eu te amo’; quando existe o processo de pensamento, existe dualidade.
P: O que é que me faz voltar repetidamente à índia? Não pode ser apenas a vida comparativamente barata daqui? Nem o colorido e a variedade de impressões. Deve haver algum fator mais importante.
M: Há também o aspecto espiritual. A divisão entre o externo e o interno é menor na índia. É mais fácil expressar o interno no externo aqui. A integração é mais fácil. A sociedade não é tão opressiva.
P: Sim, no ocidente tudo é tamas e rajas. Na índia há mais sattva, harmonia e equilíbrio.
M: Você não pode ir além dos gunas? Por que escolher sattva? Seja o que você é, onde quer que esteja, e não se preocupe com os gunas.
P: Eu não tenho a força.
M: Isto meramente mostra que você ganhou pouco na índia. O que você verdadeiramente tem, não pode perder. Estivesse bem assentado em seu ser, mudar de lugar não iria afetá-lo.
P: Na índia, a vida espiritual é fácil. Não é assim no ocidente. Deve- se amoldar ao meio ambiente em muito maior extensão.
M: Por que você não cria seu próprio meio ambiente? O mundo só tem tanto poder sobre você na medida em que o dá a ele. Rebele-se. Vá além da dualidade, não faça nenhuma diferença entre oriente e ocidente.
P: O que posso fazer quando me encontrar em um meio nada espiritual?
M: Não faça nada. Seja você mesmo. Fique fora. Olhe além.
P: Pode haver confrontos em casa. Os pais raramente entendem.
M: Quando você conhece seu verdadeiro ser, você não tem problemas. Pode agradar seus pais ou não, casar ou não, ganhar bastante dinheiro ou não: é tudo o mesmo para você. Apenas aja de acordo com as circunstâncias, mas em íntimo contato com os fatos, com a realidade em cada situação.
P: Não é um estado muito elevado?
M: Oh. não. é o estado normal. Você o chama elevado porque o teme. Primeiro seja livre do medo. Veja que não há nada a temer. A coragem é a porta para o Supremo.
P: Nenhuma quantidade de esforço pode me fazer corajoso.
M: A coragem vem por si mesma quando você vê que não há nada a temer. Quando caminha em uma rua movimentada, você apenas contorna as pessoas. A alguns você vê, a outros apenas olha de relance, mas você não para. É parar que cria o gargalo. Continue caminhando! Seja indiferente aos nomes e formas, não se apegue a elas; seu apego é sua escravidão.
P: O que deverei fazer quando um homem me esbofeteia?
M: Você reagirá de acordo com seu caráter inato ou adquirido.
P: É inevitável? Estou eu, está o mundo, condenado a permanecer como nós somos?
M: Um joalheiro que quer remodelar um ornamento primeiro funde e torna informe o ouro. Similarmente, deve-se retornar ao estado original, antes que um novo nome e uma nova forma possam surgir. A morte é essencial para a renovação. P: Você sempre salienta a necessidade de ir além, de indiferença, de solidão. Você dificilmente usa as palavras ‘certo’ e ‘errado’. Por que é assim? M: É certo ser o que se é, é errado não o ser. Tudo o mais é condicional. Você está ávido para separar o certo do errado porque necessita alguma base para a ação. Você sempre procura fazer uma coisa ou outra. Mas, a ação pessoalmente motivada, baseada em alguma escala de valores, objetivando algum resultado, é pior que a inação, pois seus frutos são sempre amargos.
P: A Consciência e o amor são um e o mesmo?
M: Certamente. A Consciência é dinâmica, o amor é ser. A Consciência é amor em ação. Por si mesma, a mente pode realizar quaisquer possibilidades, mas. a menos que sejam solicitadas pelo amor, serão sem valor. O amor precede a criação. Sem ele. há apenas caos.
P: Onde está a ação na Consciência?
M: Você é tão incuravelmente funcional! A menos que haja movimento, desassossego. alvoroço, você não o chama ação. O caos é o movimento pelo movimento. A verdadeira ação não desordena, mas transforma; uma mudança de lugar é mero transporte; uma mudança de coração é ação. Apenas recorde - nada perceptível é real. A atividade não é ação. A ação é secreta, desconhecida, incognoscível. Você pode apenas conhecer o fruto.
P: Não é Deus o autor de tudo?
M: Por que trazer um agente externo? O mundo se recria de si mesmo. É um processo sem fim, o transitório recriando o transitório. É seu ego que o faz pensar que deve haver um agente. Você cria um Deus à sua própria imagem, quão sombria seja esta imagem. Através do filme de sua mente, você projeta um mundo e também um Deus para dar a ele causa e propósito. É tudo imaginação - saia disto.
P: Quão difícil é ver o mundo como puramente mental! Sua realidade tangível parece tão convincente.
M: Este é o mistério da imaginação, que pareça tão real. Você pode ser celibatário ou casado, monge ou pai de família; não é esta a questão. Você é um escravo de sua imaginação, ou não? Qualquer decisão que você toma, o que quer que você faça, será invariavelmente baseada na imaginação, em suposições desfilando como fatos.
P: Estou aqui sentado em frente a você. Que parte disto é imaginação?
M: Tudo. Mesmo o espaço e o tempo são imaginados.
P: Isto significa que eu não existo?
M: Eu também não existo. Toda existência é imaginária.
P: O ser é também imaginário?
M: O puro Ser, preenchendo tudo e além, não é a existência, a qual é limitada. Toda limitação é imaginária, apenas o ilimitado é real.
P: Quando você olha para mim, o que você vê?
M: Vejo-o imaginando que você é.
P: Há muitos como eu. Mesmo assim, cada um é diferente.
M: A totalidade de todas as projeções é o que é chamado maha-maya, a Grande Ilusão.
P: Mas. quando você olha para si mesmo, o que você vê?
M: Depende de como olho. Quando olho através da mente, vejo inumeráveis pessoas. Quando olho além da mente, vejo a testemunha. Além da testemunha, há a infinita intensidade da vacuidade e do silêncio.
P: Como lidar com as pessoas?
M: Por que fazer planos e para quê? Tais perguntas mostram ansiedade. A relação é uma coisa viva. Esteja em paz em seu ser interior e estará em paz com todos. Compreenda que você não é o senhor de tudo que acontece, você não pode controlar o futuro exceto em assuntos puramente técnicos. O relacionamento humano não pode ser planejado, é por demais rico e variado. Simplesmente seja compreensivo e compassivo, livre de todo egoísmo.
P: Seguramente, não sou o senhor do que acontece. Sou seu escravo em vez disto.
M: Não seja nem senhor nem escravo. Permaneça indiferente. P: Isto implica em evitar a ação?
M: Você não pode evitar a ação. Ela acontece, como todas as outras coisas.
P: Minhas ações, seguramente, eu posso controlar. M: Tente. Logo você verá que faz o que deve.
P: Posso agir de acordo com a minha vontade.
M: Você conhece sua vontade só depois de ter atuado.
P: Eu recordo meus desejos, as escolhas feitas, as decisões tomadas e atuo consequentemente.
M: Então sua memória decide, não você.
P: Onde eu entro?
M: Você o faz possível dando-lhe atenção.
P: Não existe o livre arbítrio? Não sou livre para desejar?
M: Oh, não. Você é compelido a desejar. No Hinduísmo, a própria ideia do livre arbítrio não existe. Não há nenhuma palavra para ela. A vontade é compromisso, fixação, cativeiro.
P: Sou livre para escolher minhas limitações.
M: Você deve ser livre primeiro. Para ser livre no mundo, deve ser livre do mundo. De outra forma, seu passado decide por você e por seu futuro. Você foi pego entre o que aconteceu e o que deve acontecer. Chame-o destino ou karma, mas nunca liberdade. Primeiro retorne para seu verdadeiro ser e então aja de acordo com o coração do amor.
P: No manifestado, qual é o selo do não manifestado?
M: Não há nenhum. No momento em que você começa a busca pelo selo do não manifestado, o manifestado se dissolve. Se você tenta entender o não manifestado com a mente, você imediatamente vai além da mente, exatamente como quando você atiça o fogo com uma vareta de madeira e também a queima. Use a mente para investigar o manifestado. Seja como o pinto que pica a casca do ovo. Especular sobre o exterior à casca seria de pouca utilidade, mas picar a casca a quebrará e libertará o pinto. Similarmente, rompa a mente a partir do interior pela investigação e pela revelação de suas contradições e absurdos.
P: De onde vem o desejo de romper a casca?
M: Do não manifestado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário