Pergunta: Falamos outro dia sobre os caminhos da mente ocidental e da dificuldade que ela encontra em submeter-se à disciplina moral e intelectual do Vedanta. Um dos obstáculos está na preocupação de jovens europeus e americanos com as desastrosas condições do mundo e com a necessidade urgente de colocá-lo em ordem. Eles não têm nenhuma paciência com pessoas como você que pregam o aperfeiçoamento pessoal como uma precondição para o melhoramento do mundo. Eles dizem que não é nem possível nem necessário. A humanidade está pronta para uma mudança de sistemas - social, econômico, político. Um governo mundial, uma polícia mundial, uma planificação mundial e a abolição de todas as barreiras físicas e ideológicas: isto é o bastante, nenhuma transformação pessoal é necessária. Sem dúvida, as pessoas moldam a sociedade, mas a sociedade molda as pessoas também. Na sociedade humana, as pessoas serão humanas; além disto, a ciência proporciona a resposta para muitas perguntas, as quais anteriormente estavam no domínio da religião.
Maharaj: Sem dúvida, lutar pelo melhoramento do mundo é a ocupação mais louvável. Feita abnegadamente, clarifica a mente e purifica o coração. Mas logo o homem compreenderá que persegue uma miragem. O melhoramento local e temporário é sempre possível e se conseguiu repetidamente sob a influência de um grande rei ou mestre; mas logo chegaria ao fim, deixando a humanidade em um novo ciclo de miséria. Está na natureza de toda manifestação que o bem e o mal se seguem um ao outro em igual medida. O verdadeiro refúgio é somente no imanifesto.
P: Está nos aconselhando a fuga?
M: Ao contrário. O único caminho para a renovação passa pela destruição. Você deve fundir as velhas joias em ouro informe antes que possa moldar uma nova. Apenas as pessoas que foram além do mundo podem mudá-lo. Nunca aconteceu de outra forma. Os poucos cujo impacto foi muito duradouro eram todos conhecedores da realidade. Alcance o nível deles e só então fale em ajudar o mundo.
P: Não são os rios e as montanhas que queremos ajudar, mas as pessoas.
M: Não há nada errado no mundo, exceto as pessoas que o tomam mau. Vá e peça-lhes que se comportem.
P: O desejo e o medo as levam a comportar-se como o fazem.
M: Exatamente. Enquanto o comportamento humano for dominado pelo desejo e pelo medo, não haverá muita esperança. E, para saber como se aproximar efetivamente das pessoas, você mesmo deve estar livre de todo desejo e de todo medo.
P: Certos desejos e temores são inevitáveis, tais como os relacionados ao alimento, ao sexo e à morte.
M: Esses são necessidades e, como necessidades, são fáceis de satisfazer.
P: Mesmo a morte é uma necessidade?
M: Tendo vivido uma vida longa e frutífera, você sente a necessidade de morrer. Apenas quando aplicados errada mente, o desejo e o medo são destrutivos. Certamente, deseje o certo e tema o errado. Mas quando as pessoas desejam o que é errado e temem o que é certo, criam caos e desespero.
P: O que é certo e o que é errado?
M: De modo relativo, o que causa sofrimento é errado e o que o alivia é certo. Absolutamente, o que o leva de volta à realidade é certo e o que a obscurece é errado.
P: Quando falamos de ajudar a humanidade, nós queremos dizer lutar contra a desordem e o sofrimento.
M: Você meramente fala de ajudar. Você já ajudou - realmente ajudou - um simples ser humano? Você já colocou uma alma além da necessidade de ajuda? Você pode dar a um homem um caráter, baseado ao menos na plena realização de seus deveres e oportunidades, se não lhe dá a ideia sobre seu verdadeiro ser? Quando você não sabe o que é bom para você mesmo, como pode saber o que é bom para os outros?
P: A provisão adequada dos meios de vida é boa para todos. Pode ser que você seja o próprio Deus. mas você necessita de um corpo bem alimentado par nos falar.
M: É você que necessita de meu corpo para lhe falar. Eu não sou meu corpo, nem o necessito. Sou apenas a testemunha. Não tenho nenhuma forma própria. Vocês estão tão acostumados a pensar de vocês mesmo como corpos tendo consciência que simplesmente não podem imaginar a consciência como tendo corpos. Uma vez que você compreenda que a existência corporal é apenas um estado da mente, um movimento na consciência, que o oceano da consciência é infinito e eterno, e que, quando em contato com a consciência, você é apenas a testemunha, então você será capaz de retirar-se totalmente para além da consciência.
P: Falaram-nos que há muitos níveis de existência. Você existe e funciona em todos os níveis? Enquanto você está na terra, você está também no céu (swarga)?
M: Eu não estou em parte alguma para ser encontrado! Não sou uma coisa, para ter lugar entre outras coisas. Todas as coisas estão em mim, mas eu não estou entre as coisas. Você está me falando sobre a superestrutura enquanto eu estou interessado nas fundações. As superestruturas elevam-se e caem, mas as fundações duram. Não estou interessado no transitório, enquanto você não fala de nada mais.
P: Perdoe-me uma pergunta estranha. Se alguém com uma lâmina afiada lhe cortasse a cabeça, que diferença isto faria para você?
M: Nenhuma, seja qual for. O corpo perderá sua cabeça, certas linhas de comunicação serão cortadas, isto será tudo. Duas pessoas falam uma à outra pelo telefone e o cabo é cortado. Nada acontece para as pessoas, apenas elas devem procurar algum outro meio de comunicação. O Bhagavad Gita diz: “A espada não o corta”. É literalmente assim. Na natureza da consciência está o sobreviver a seus veículos. É como o fogo. Ele queima o combustível, mas não a si mesmo. Do mesmo modo que o fogo pode durar mais que uma montanha de combustível, assim a consciência sobrevive a inumeráveis corpos.
P: O combustível afeta a chama.
M: Enquanto ela durar. Mude a natureza do combustível, e a cor e a j aparência da chama mudarão. Agora, estamos falando um ao outro. Para isto a presença é necessária; a menos que estejamos presentes, não poderemos falar. Mas a presença por si só não basta. Deve haver também o desejo de falar. Acima de tudo, queremos permanecer conscientes. Devemos tolerar todo tipo de sofrimento e humilhação, mas devemos permanecer particularmente conscientes. A menos que nos revoltemos contra esta ânsia de experiência e abandonemos o manifesto por completo, não pode haver alívio. Permaneceremos presos.
P: Você disse que é a testemunha silenciosa e que também está além da consciência. Não há contradição nisto? Se você está além da consciência, o que você testemunha?
M: Sou consciente e inconsciente, sou ambos e nenhum deles, nem consciente nem inconsciente - de tudo isto eu sou a testemunha - mas. realmente, não há testemunha porque não há nada a ser testemunhado. Sou perfeitamente vazio de toda formação mental, destituído de mente - ainda assim plenamente consciente. Tento expressar tudo isto dizendo que estou além da mente.
P: Então como posso alcançar você?
M: Tenha consciência de ser consciente e busque a fonte da consciência. Isto é tudo. Muito pouco pode ser comunicado em palavras. Fazer o que lhe falo é o que trará a luz, não minhas palavras. Os meios não importam muito, o que conta é o desejo, o impulso, a seriedade.
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