Pergunta: Em várias ocasiões foi feita a pergunta sobre se o universo está sujeito à lei da causalidade, ou se existe e funciona fora dessa lei. Você parece defender a ideia de que ele não tem causa, que tudo, embora pequeno, careça de causa, surgindo e desaparecendo sem razão conhecida alguma.
Maharaj: Causalidade significa sucessão no tempo de eventos no espaço, espaço este físico ou mental. Tempo, espaço e causalidade são categorias mentais que surgem e desaparecem com a mente.
P: Enquanto a mente operar, a causalidade será uma lei válida.
M: Como todas as coisas mentais, a chamada lei de causalidade contradiz a si mesma. Nada na existência tem uma causa particular; o universo inteiro contribui para a existência inclusive da menor coisa; nada poderia ser como é, sem que o universo fosse o que é. Quando a origem e o fundamento de todas as coisas é a única causa de tudo, falar de causalidade como lei universal é incorreto. O universo não está limitado por seu conteúdo, porque suas potencialidades são infinitas, além de ser uma manifestação, ou expressão, de um princípio fundamental e totalmente livre.
P: Sim, pode-se ver que, finalmente, falar de algo como a única causa de outra coisa é totalmente incorreto. Ainda assim, na vida real, invariavelmente, iniciamos a ação com vistas a um resultado.
M: Sim, há muita atividade deste tipo devido à ignorância. Se as pessoas soubessem que nada ocorre a menos que todo o universo faça com que aconteça, realizariam muito mais com muito menos gasto de energia.
P: Se tudo é uma expressão da totalidade das causas, como podemos falar de uma ação intencional dirigida a uma realização?
M: O próprio desejo de realizar algo também é uma expressão do universo inteiro. Ele meramente mostra que a energia potencial surgiu em um ponto determinado. É a ilusão do tempo que o faz falar de causalidade. Quando o passado e o futuro são vistos no agora atemporal, como partes de um padrão comum, a ideia de causa e efeito perde sua validade e é substituída pela liberdade criativa.
P: Apesar disto, eu não posso imaginar como algo possa existir sem uma causa.
M: Quando digo que alguma coisa não tem causa, quero dizer que pode ser sem uma causa particular. Sua própria mãe não foi necessária para lhe dar nascimento; você poderia ter nascido de alguma outra mulher. Mas não poderia ter nascido sem o sol e sem a terra. Mesmo estes não poderiam ter causado seu nascimento sem o fator mais importante, seu próprio desejo de nascer. É o desejo que dá nascimento, que dá nome e forma. O desejável é imaginado e procurado, e se manifesta como algo tangível ou concebível. Desse modo é criado o mundo em que vivemos, nosso mundo pessoal. O mundo real está além do alcance da mente; nós o vemos através da rede de nossos desejos divididos entre dor e prazer, certo e errado, interior e exterior. Para ver o universo como ele é, você deve ir além da rede. Não é difícil fazê-lo, porque a rede está cheia de buracos.
P: O que quer dizer por buracos? E como encontrá-los?
M: Olhe para a rede e suas muitas contradições. Você faz e desfaz a cada passo. Você quer paz, amor, felicidade, e trabalha duro para criar dor, ódio e guerra. Você quer longevidade e abusa da alimentação, quer amizade e explora os outros. Veja sua rede feita de tais contradições e elimine-as - o fato de vê-las as fará desaparecer.
P: Já que ver minhas contradições as fará desaparecer, não existe uma conexão causai entre o meu ver e o desaparecimento delas?
M: A causalidade, mesmo como conceito, não se aplica ao caos.
P: Em que medida o desejo é um fator causai?
M: Um dos muitos. Para tudo há inumeráveis fatores causais. Mas a fonte de tudo o que existe é a Possibilidade Infinita, a Realidade Suprema, que está em você e que lança seu poder, luz e amor em cada experiência. Mas esta fonte não é uma causa, e nenhuma causa é uma fonte. Por isso digo que nada tem causa. Você pode tentar conjeturar como algo acontece, mas não pode saber porque uma coisa é como é. Uma coisa é como é porque todo o universo é como é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário