Pergunta: Alguns dizem que o universo foi criado; outros, que sempre existiu e que está sempre passando por transformações. Alguns dizem que está sujeito a leis eternas. Outros negam inclusive a causalidade. Alguns dizem que o mundo é real; outros, que não tem nenhuma existência, seja qual for.
Maharaj: De que mundo você está falando?
P: Do mundo de minhas percepções, certamente.
M: O mundo que você pode perceber é, sem dúvida, um mundo muito pequeno. E é um mundo inteiramente privado. Tome-o por um sonho e deixe-o de lado.
P: Como posso considerá-lo um sonho? Um sonho não dura.
M: Quanto durará seu pequeno mundo?
P: Apesar de tudo, meu pequeno mundo é apenas uma parte do total.
M: A ideia de um mundo total não é uma parte de seu mundo pessoal? O universo não vem lhe dizer que você é uma parte dele. Foi você que inventou uma totalidade que o contenha como parte. De fato, tudo o que você conhece é seu próprio mundo privado, por mais que o tenha mobiliado com imaginações e esperanças.
P: Certamente, a percepção não é imaginação!
M: Que outra coisa seria? A percepção é reconhecimento, não é assim? Algo inteiramente desconhecido pode ser sentido, mas não pode ser percebido. A percepção envolve memória.
P: Concedido, mas a memória não a converte em ilusão.
M: A percepção, a imaginação, a esperança, a antecipação, a ilusão - todas estão baseadas na memória. Dificilmente existem quaisquer linhas fronteiriças entre elas. Simplesmente se fundem umas com as outras. Todas são respostas da memória.
P: Não obstante, a memória existe para provar a realidade do meu mundo.
M: Quanto recorda você? Tente escrever de memória o que esteve pensando, dizendo e fazendo no dia trinta do mês passado.
P: Sim, há um vazio.
M: Não está tão mal. Você se lembra de muita coisa - a memória inconsciente faz o mundo em que vive tão familiar.
P: Admito que o mundo em que vivo é subjetivo e parcial. E quanto a você? Em que tipo de mundo você vive?
M: Meu mundo é exatamente como o seu. Eu vejo, ouço, sinto, penso, falo e atuo em um mundo que percebo exatamente como você o percebe. Mas para você isto é tudo, para mim é quase nada. Sabendo que o mundo é uma parte de mim mesmo, não lhe dou mais atenção que a que você dá aos alimentos que comeu. Enquanto eles estão sendo preparados para serem comidos, eles estão separados de você e sua mente está neles; uma vez engolidos, você se torna totalmente inconsciente deles. Eu comi o mundo e não necessito mais pensar nele.
P: Você não se torna completamente irresponsável?
M: Como poderia? Como poderia causar mal a algo que é um comigo mesmo? Pelo contrário, sem pensar no mundo, qualquer coisa que fizer o beneficiará. Enquanto o corpo se ajusta inconscientemente, assim eu estou incessantemente ativo pondo em ordem o mundo.
P: Todavia, você está consciente do imenso sofrimento do mundo?
M: Certamente, estou, muito mais que você.
P: Então, o que você faz?
M: Olho-o através dos olhos de Deus e percebo que tudo está bem.
P: Como pode dizer que tudo está bem? Veja as guerras, a exploração, a luta cruel entre o cidadão e o Estado.
M: Todos estes sofrimentos foram fabricados pelo homem e está dentro de seu poder acabar com eles. Deus ajuda o homem a encarar os resultados de seus atos e exige que o equilíbrio seja restaurado. O karma é a lei que trabalha pela retidão, é a mão curativa de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário