Pergunta: Escutando-o, dou-me conta de que é inútil fazer-lhe perguntas. Quaisquer que sejam elas, invariavelmente, você as desvia e me leva ao fato básico de que eu estou vivendo uma ilusão criada por miro mesmo, e que a realidade não pode ser expressa em palavras. As palavras só aumentam a confusão, e a única direção prudente é a silenciosa busca interior.
Maharaj: Afinal de contas, a mente é a que cria a ilusão e é ela que fica livre dela. As palavras podem agravar a ilusão; as palavras podem também ajudar a dissipá-la. Não há nada errado em repetir a mesma verdade, frequentemente, até que se torne realidade. O trabalho da mãe não acaba com o nascimento da criança; ela o alimenta dia após dia, ano após ano, até que não seja mais necessária. A pessoa precisa ouvir palavras até que os fatos lhe falem mais alto que elas.
P: De modo que somos crianças que se deve alimentar com palavras?
M: Enquanto você der importância às palavras, continuará uma criança.
P: Tudo bem, então seja a nossa mãe.
M: Onde estava a criança antes de nascer? Não estava com a mãe? Porque já estava com a mãe, ela pôde nascer.
P: Certamente, a mãe não levava a criança quando ela própria ainda era uma criança.
M: Potencialmente, ela era a mãe. Vá além da ilusão do tempo.
P: Sua resposta é sempre a mesma. Uma espécie de mecanismo de um relógio que bate as mesmas horas repetidamente.
M: Nada pode ser feito. Assim como o sol se reflete em um bilhão de gotas de orvalho, da mesma forma o atemporal se repete interminável- mente. Quando repito: ‘Eu sou, Eu sou’, meramente afirmo e reafirmo um fato sempre presente. Você se cansa de minhas palavras porque não vê a verdade viva por trás delas. Contate-a e encontrará o significado pleno das palavras e do silêncio - de ambos.
P: Você diz que a menina já seria mãe de seu futuro filho. Potencialmente, sim; realmente, não.
M: O pensamento transforma o potencial em real. O corpo e seus assuntos existem na mente.
P: E a mente é consciência em movimento, e a consciência é o aspecto condicionado (saguna) do Eu. O incondicionado (nirguna) é outro aspecto, e além dele está o abismo do absoluto (paramartha).
M: Exato, você o expressou belamente.
P: Mas para mim estas são meras palavras. Ouvi-las e repeti-las não é suficiente, elas devem ser experimentadas.
M: Nada o detém salvo a preocupação com o externo que o impede de focar o interno. Não pode fazer nada, não pode ignorar seu sadhana. Terá que se afastar do mundo e ir para dentro, até que o externo e o interno se fundam, e você possa ir além do condicionado, seja interno ou externo.
P: Sem dúvida, o incondicionado é meramente uma ideia na mente condicionada. Por si mesmo não tem existência.
M: Por si mesmo nada tem existência. Tudo necessita de sua própria ausência. Ser é ser distinto, estar aqui e não lá, ser agora e não em seguida, ser assim e não de outra forma. Exatamente como a água toma a forma do recipiente, assim todas as coisas estão determinadas pelas condições (gunas). Como a água que segue sendo água, independente dos vasilhames, assim como a luz que segue sendo luz, independente das cores que produz, o real segue sendo real, independente das condições nas quais se reflete. Por que manter apenas o reflexo no foco da consciência? Por que não o próprio real?
P: A própria consciência é um reflexo. Como poderia conter o real?
M: Saber que a consciência e seu conteúdo são apenas reflexos mutáveis e transitórios é focar o real. Negar-se a ver a serpente na corda é a condição necessária para ver a corda.
P: Só necessária ou também suficiente?
M: Deve-se saber também que existe a corda e que se parece como uma cobra. De modo similar, deve-se saber que o real existe e que é da natureza da consciência-testemunha. Certamente está além da testemunha, mas, para entrar nele, deve-se entender primeiro o estado de puro testemunhar. A Consciência das condições o leva ao incondicionado.
P: O incondicionado pode ser experienciado?
M: Conhecer o condicionado como o condicionado é tudo o que pode ser dito sobre o incondicionado. Os termos positivos são meras indicações, e enganam.
P: Podemos falar de testemunhar o real?
M: Como poderíamos? Podemos falar apenas do irreal, do ilusório, do transitório, do condicionado. Para ir além, deveremos negar a tudo a existência independente. Todas as coisas são dependentes.
P: De que dependem?
M: Da consciência. E a consciência depende da testemunha.
P: E a testemunha depende do real?
M: A testemunha é um reflexo do real em toda sua pureza. Depende da condição da mente. Onde predominam a claridade e o desapego, surge a consciência-testemunha. É como dizer que, onde a água está limpa e tranquila, a imagem da lua aparece. Ou como a luz do dia que aparece como flashes no diamante.
P: Pode haver consciência sem a testemunha?
M: Sem a testemunha, converte-se em inconsciência, simplesmente vida. A testemunha está latente em cada estado de consciência, como a luz em cada cor. Não pode existir nenhum conhecimento sem o conhecedor e nenhum conhecedor sem sua testemunha. Não apenas você sabe, mas sabe que sabe.
P: Se o incondicionado não pode ser experienciado, pois toda experiência é condicionada, então por que falar dele em tudo?
M: Como poderia haver conhecimento do condicionado sem o incondicionado? Deve existir uma fonte da qual tudo isto flui, um fundamento no qual tudo se apoie. A autorrealização é, antes de tudo, o conhecimento do próprio condicionamento, e a Consciência de que a variedade infinita de condições depende de nossa habilidade infinita de sermos condicionados e de dar origem a esta variedade. Para a mente condicionada, o incondicionado aparece como totalidade bem como a ausência de tudo. Tampouco pode ser experimentado diretamente, mas isto não o faz inexistente.
P: Não seria um sentimento?
M: Um sentimento é também um estado da mente. Como um corpo saudável que não requer atenção, o incondicionado está livre de experiência. Veja a experiência da morte. O homem comum tem medo de morrer porque tem medo da mudança. O gnani não tem medo porque sua mente já está morta. Ele não pensa: ‘Eu vivo’. Ele sabe: ‘Há vida’. Não há mudança nele e nenhuma morte. A morte parece ser uma mudança no tempo e no espaço. Onde não há nem tempo nem espaço, como poderia existir a morte? O gnani já está morto para o nome e a forma. Como poderia afetar-lhe a perda disso? O homem que está dentro de um trem viaja de um lugar para outro, mas o homem fora do trem não vai a nenhuma parte já que não está limitado pelo destino. Não tem para onde ir, nada para fazer, nada a vir a ser. Aqueles que fazem planos nascerão para realizá-los. Aqueles que não fazem planos não necessitam nascer.
P: Qual é o propósito do prazer e da dor?
M: Existem por si mesmos ou só na mente?
P: Existem, ainda assim. Não importa a mente.
M: O prazer e a dor são meros sintomas, os resultados de conhecimento e de sentimento incorretos. Um resultado não pode ter propósito próprio.
P: Na economia de Deus, tudo deve ter um propósito.
M: Você conhece o Deus do qual fala tão livremente? Que é Deus para você? Um som, uma palavra escrita, uma ideia na mente?
P: Por seu poder nasci e me mantenho vivo.
M: E sofre e morre. Você está contente?
P: Talvez, por minha própria culpa, sofra e morra. Eu fui criado para a vida eterna.
M: Por que eterna no futuro e não no passado? O que tem um princípio deve ter um fim. Só o que não começa é interminável.
P: Deus pode ser um mero conceito, uma hipótese de trabalho. Mesmo assim, um conceito muito útil!
M: Para isto teria que ser livre de contradições internas, o que não é o caso. Por que não trabalhar com a teoria de que você é sua própria criação e seu próprio criador? Ao menos não existirá um Deus externo com o qual combater.
P: O mundo é tão rico e complexo - como eu poderia tê-lo criado?
M: Você se conhece o suficiente para saber o que pode ou não fazer? Não conhece seus próprios poderes. Você nunca investigou. Comece por você mesmo agora.
P: Todos acreditam em Deus.
M: Para mim, você é seu próprio Deus. Mas, se pensa de outro modo, pense-o até o final. Se há Deus, então tudo é de Deus e tudo é para melhor. Aceite tudo o que vier com um coração alegre e agradecido. E ame a todas as criaturas. Isto também o levará a seu ser.
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